BAIRRO PIRAMBU - ROGACIANO LEITE
Em derrocadas fatais;
Só a desgraça do povo
É sempre um motivo novo
Nos “rushes” eleitorais.
(…)
Que é feito de mil promessas
Que jamais foram cumpridas;
Em vez de casas decentes,
Lá só tem tenhas caídas.
Nesses exíguos casebres
Há paralisia e febres,
Câncer nos seios das mães;
Mocinhas tossindo fundo,
Sífilies, doenças do mundo,
Gafieira como os cães.
É tempo, já, meus senhores,
De extinguir esse problema;
De acabar com essa mancha
Sobre a Terra de Iracema;
Crehces, hospitais, lactários,
Maternidades, berçários
No bairro do Pirambu;
Enquanto os clubes dão festa,
Cada palhoça modesta
Sepulta um menino nu.
Dedicai um dia, ao menos,
Um dia de cada mês,
Para um bingo contra a fome,
O desabrigo e a nudez.
Olhai o bairro-problema
Na sua miséria extrema
E o povo a chorar nas ruas…
Com um só vestido de miss,
Talvez um clube cobrisse
Mil mocinhas que andam nuas.
Tende orgulho dos mais ricos,
Clubes que há neste País;
Mas tende também vergonha
Daquele bairro infeliz.
Fortaleza é uma cidade,
Cuja flor da sociedade
Faz Monte Carlo tremer;
E enquanto a society impera,
A miséria prolifera
Em ritmo de estarrecer.
Pirambu, bairro dos tristes
Que a desventura cobriu;
Praia que as ondas não lavam,
Recanto que Deus não viu;
Cidade de mortos-vivos
Que nem os negros cativos
Viveram tragédia igual;
Que na era dos foguetes
Mostram no rosto os sinetes
Da escravidão social.
Poeta e Jornalista Rogaciano Leite 1930 - 1969