terça-feira, 20 de agosto de 2019

O POLO INDUSTRIAL DA FÉ


E disse Jesus aos seus discípulos:
"... Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles".
(Mateus 18.20)
Todo mundo que mora em Fortaleza já passou pela  a Avenida Presidente Humberto Castelo Branco, que liga a zona Leste á zona Oeste de Fortaleza, popularmente chamada de Avenida "Leste Oeste".  A Leste Oeste tem apenas 6,9 km de extensão, porém tem cerca de 30 igrejas reunidas em uma só avenida, transformando-a em um imenso "corredor da fé", ou melhor, "um polo industrial da fé". Se o capítulo 18, versículo 20 do livro de Mateus citado no início estiver certo, o próprio Deus mora na Avenida Leste Oeste, pois não são só dois ou três reunidos em seu nome,  são milhares de pessoas reunidas diariamente naquela avenida. 

 
Capela Santa Edwirges

Dentre as 30 igrejas contabilizadas, a esmagadora maioria é evangélica. Da  Capela Santa Edwirges – próxima ao Hotel Marina Park – até a ponte sobre o Rio Ceará, foram contadas 28 igrejas evangélicas e somente 2 católicas.

Conveniência


Duas igrejas ocupam o mesmo quarteirão onde mora o aposentado Guilherme Flores da Silva, uma, por sinal, é vizinha a sua casa.  “Primeiro não tinha tanta, agora aumentou. Tem muita igreja aqui na avenida”, reconhece o morador da avenida há várias décadas.

Há dois anos Seu Guilherme precisa apenas descer o degrau da sua casa e em poucos passos já está na Igreja Cristã Aba Pai, religião que segue atualmente. Ele conta que a conveniência de residir ao lado de um templo contribuiu na escolha. O trajeto da esposa até a igreja católica Nossa Senhora Aparecida é maior, mas nada além de atravessar a via e andar alguns metros.



Pastor justifica


  A concorrência por fiéis na região tem explicação religiosa, segundo José Quirino, pastor de uma das igrejas da Castelo Branco. “Aqui é uma área de risco e as pessoas estão se conscientizando que precisam ter um Deus na vida delas para elas saírem da marginalidade, do mundo das drogas, da violência”, teoriza o líder da Igreja Mundial do Poder de Deus. A avenida corta bairros como Barra do Ceará, Pirambu, Cristo Redentor e Moura Brasil.

Vídeo: Religiosidade e Racionalização Religiosa



A ESCOLHA RACIONAL DA RELIGIÃO

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De acordo com Rodney Stark, Roger Finke e Laurence Iannaccone,pesquisadores que formularam a teoria da escolha racional da religião.

No plano religioso, “as pessoas fazem escolhas da mesma maneira que fazem outras escolhas, pesando custos e benefícios”  (Stark, 1999a, p. 265). 
Da mesma forma que John Stuart Mill propôs que a ciência econômica deveria empregar
método dedutivo baseado no axioma de que os homens preferem uma quantidade de riqueza maior a uma menor (cf. Abramovay, 2004, p. 41), Stark postula que “os seres humanos buscam o que percebem ser recompensas e evitam o que percebem ser custos” (1997, pp. 6-7). Eis a premissa básica dessa teoria.

No plano religioso, “as pessoas fazem escolhas da mesma maneira que fazem outras escolhas, pesando custos e benefícios”
(Stark, 1999a, p. 265).

Na busca por benefícios, segundo Stark (cf. Idem, p. 265), os seres humanos “querem religião” por ser a única fonte plausível de certas recompensas, incluindo aquelas indisponíveis aqui e agora para todos – como a tão desejada vida após a morte –, para as quais, a seu ver, há uma “demanda geral e inexaurível”. Nessa formulação, tal demanda parece independer da ação dos produtores religiosos e dos contextos históricos e culturais, o que, além de sociologicamente problemático, torna a secularização, em teoria, impossível (cf. Sharot, 2002, pp. 433-434). 

Bruce (1999, p. 57) se opõe ao pres-
suposto de que a “condição humana nos confere uma necessidade permanente” de recompensas sobrenaturais, questionando a existência de uma
religiosidade intrínseca aos seres humanos.
Para obter recompensas religiosas, os indivíduos procuram utilizar e manipular o sobrenatural, efetuando relações de troca com os deuses (cf.
Stark, 1999a, pp. 269-270). As trocas com deuses poderosos, atentos às necessidades dos devotos e capazes de prover recompensas extra mundanas,tendem a gerar custos mais elevados e relacionamento exclusivo de longo prazo (cf. Idem, pp. 275-277). As organizações religiosas, portanto, “serão capazes de requerer compromissos exclusivos e longos à medida que oferecerem recompensas extra mundanas” (Idem, p. 279). Nesse ponto, Stark (cf.Idem, pp. 281-282) sustenta a distinção sociológica clássica entre religião e magia, observando que a primeira, por centrar-se numa relação de troca com os deuses e na oferta de recompensas extra mundanas de longo prazo,tende a gerar compromissos estáveis, duradouros e institucionalmente organizados, enquanto a última, baseada na coação e manipulação de forças sobrenaturais e na oferta de recompensas pontuais, imediatistas e mundanas, tende a formar clientela.

As trocas que envolvem custos e compromissos de longo prazo com vistas à obtenção de recompensas extra mundanas, como a salvação paradisíaca, implicam risco, já que estas não podem ser efetivamente demonstradas. Como confiar, então, em sua veracidade? Problema universal da religião, segundo Stark (cf. Idem, p. 282), a confiança é gerada pela interação
com os (e socialização dos) membros do grupo religioso, que depositam fé nessas recompensas e, assim, as legitimam internamente. De modo que a pregação, o discipulado, os rituais, as orações, as experiências místicas, os milagres atribuídos às forças divinas e, sobretudo, os testemunhos de bênções recebidas, compartilhados coletivamente, são responsáveis por tornar confiáveis tais promessas extra mundanas (cf. Idem, pp. 283-285).

Baseado no conceito de racionalidade subjetiva de John Ferejohn e Raymond Boudon, Stark (1999a, p.266) define racionalidade da seguinte forma: “Dentro de seus limites de in-
formação e compreensão, restringidos pelas opções disponíveis, guiados por suas preferências e gostos, os seres humanos tentam fazer escolhas racionais”. Fazer uma escolha racional significa sempre “tentar maximizar”.

 A “intenção” do agente de maximizar “é tudo”, segundo Stark (cf. Idem, p.266), não importando se ele carece de informação ou se age apoiado em cálculos errados. O conceito de racionalidade subjetiva, portanto, não permite considerar irracional uma ação baseada na ignorância (cf. Sharot, 2002, p.429).

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